Por Márcia Dâmaso Gomes
15.06.2016
Documentário sobre Cabo Espichel premiado em Hollywoodvaleu a Carlos Sargedas a distinção de melhor documentário estrangeiro no festival Hollywood International Independent Documentary
Cursos
de mergulho, formação de espeleologia para entrar em grutas, três horas sozinho
entalado nas escarpas, uma luta contra a claustrofobia, um susto de morte e
quatro anos de filmagens deram a Carlos Sargedas o prémio de Melhor
Documentário Estrangeiro para o filme Cabo Espichel – Em Terras de um
Mundo Perdido no festival Hollywood International Independent
Documentary, um certame que premeia mensal e trimestralmente produções
documentais.
Em
2010 o Cabo Espichel comemorava 600 anos. Carlos Sargedas começa nessa altura a
estudar as possibilidades para um documentário. Após 38 anos de carreira em
fotografia, tira um curso de cinema digital e atreve-se “a ir mais longe”; “Fiz
formação de espeleologia para entrar nas grutas. Foi muito difícil porque
sofria de claustrofobia, mas consegui ultrapassar esse medo. Cheguei a ficar
entalado numa grutas por duas vezes e a pensar que morria ali”.
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O
realizador e produtor do filme conta à Fugas uma dessas vezes: “a dias da
estreia tinha a equipa a editar, queria um plano melhor das plataformas
carbonatadas, então fui sozinho. Quando estava filmar junto à água para apanhar
um plano de baixo, veio uma grande onda e arrastou-me. Só não fui desta para
melhor porque acabei por ficar entalado nas escarpas, senão não estava cá para
contar. O facto é que depois levei mais de três horas para conseguir sair dali
sem que ninguém me pudesse ajudar, nem estava visível. Consegui subir a escarpa
e fui escorregando pelas rochas.”
A
aventura não está na obra mas os seus cenários sim, já que o documentário
mostra todo o património histórico e edificado, passando pela História e
mergulhando até profundidades de cerca de 50 metros. Em destaque também, a
fauna e flora endémica ou a geologia com o foco nos dinossauros, cujas
pegadas são únicas em Sesimbra.
Espeleólogos,
especialistas de dinossauros, directores de museus - Coches, História Natural,
Arte Antiga, Geológico - amigos e profissionais da sétima arte trabalharam
graciosamente. Apesar disso, “o documentário custou uma pequena fortuna”.
Filmar
debaixo de água a grande profundidade envolve grandes dificuldades e uma equipa especializada. Além de barcos, equipamentos para
filmar em altas pressões, iluminação, aluguer de helicópteros, drones ou uma
equipa de imagem dos Estados Unidos e da BBC - para tratar as imagens dos
dinossauros -, tiveram “custos assustadores”.
Ao
prémio agora conquistado, juntam-se outros pelo mundo fora. O Cabo Espichel – Em Terras de um Mundo Perdido venceu
a Melhor Realização na 7ª edição do SilaFest na
Sérvia, Melhor Documentário no 49º Festival Internacional de Cine-Tourism de Karlovy Vary (na República Checa), a Palma de Prata no Festival
Internacional de Cinema do México e Melhor Documentário
Estrangeiro no Near Nazareth
Festival em Israel.
Em
relação à presença do filme em Portugal o realizador manifesta-se frustrado:
“enviei para alguns dos principais festivais de documentário em Portugal e nem
sequer passou na admissão, senti frustração”.
Com
isto, deixa uma mensagem aos novos cineastas: “têm muito que acreditar neles em
primeiro lugar. Ninguém vai fazer o trabalho difícil por eles. Não esperem
facilidades, não existem. Mesmo que digam que não vale a pena, que não há
mercado, que não tem interesse.” "Eu não entrei em nenhum festival
em Portugal e tenho cinco grandes prémios internacionais, nunca desistir!”,
frisa.
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